quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Projeto "Novo Céu" - Trecho 01

Ele era só um menino que gostava de brincar com pedrinhas e pequeninos tanques feitos de madeira. Tão feios e simples eram seus tanques, mas ele vivia tantas aventuras e tinha sempre muitas estórias para contar graças a seus tanques. Suas guerras que duravam algumas horas sempre acabavam com ele correndo de volta para os braços de sua mãe, que lhe mandava ir lavar-se. Era uma vida tão simples, era uma vida tão feliz.

Naquele vilarejo afastado, pobre e sem importância o menino vivia sua infância junto aos irmãos que aravam a terra e dela tiravam os seus alimentos de cada dia. Aprendera a ler com a ajuda da mãe que tinha vários livros que haviam sido copiados a mão por seu falecido avô. Como o menino amava os livros. O menino tinha muito amor no coração, pois amava sua família, seus tanques, os livros e tudo que via a sua volta. Talvez nunca tenha existido um garoto tão feliz, ou talvez todos fossem.

Mas seu amor tornou-se dor e ódio, e os tanques tão eram mais objetos de carinho, mas seu pior pesadelo.

Vieram homens com suas fardas e armas. Vieram seus tanques e sua destruição. Aos olhos do menino vieram as cenas de morte e dor daqueles que ele mais amava. Tirando forçar de um pequeno corpo que não sonhava mais, o pequeno arrastou-se e feriu-se para salvar a vida de sua mãe, mesmo vendo seus irmão caindo a sua frente, mesmo que o sangue deles se misturasse ao seu próprio suor.

Existia aquele assassino sem face. Somente olhos brilhantes por baixo do capacete. Somente sua arma que disparava para fazer sentir dor até a morte. Quem era aquele assassino que abria a carne dos seus pequenos amiguinhos e lhes fazia chorar até não haver mais voz? Porque ele gostava de fazer aqueles que mal tinham pano para abrigar-se do frio implorar daquele jeito?

Eles eram demônios, foi o que o menino percebeu em seu desepero. Quando só haviam escombros e o corpo desacordado de sua genitora, ele entendeu finalmente que aqueles eram as criaturas que assombravam o mundo e fazia o céu chorar sob as estrelas. Eles eram os culpados.

E ainda que eles não fossem culpados, isso não tinha importância, porque para o menino eles todos eram dignos somente do seu ódio bruto e sangrento.

E foi sobre os restos daquilo que fora o seu mundo e sua vida que o pequeno menino, que perdera sua alma pura de criança, jurou vingança. O ódio eterno que ele enterrou no peito fazendo-o de coração foi daquele dia em diante sua maldição e seu sopro de vida. Todos os dias eles chorou no mais fundo de si, pois no fim, ele só queria ainda poder brincar com seus pequenos tanques de madeira enquanto escutava as estórias escritas pelas mãos de seu avô.