quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Por que escrevo literatura?

Escrever é como uma forma de magia muito antiga e extremamente poderosa. Ela encanta quem lhe conhece e confere aos seus artífices capacidades extraordinárias.

Apenas através da escrita é possível imortalizar um sentimento. É através desse meio que se pode lançar uma emoção de dentro de um alguém para outras tantas pessoas, em tantos outros lugares do mundo e do futuro.

Escrever literatura pode servir ao bem e ao mal, pois está além desses conceitos fracos. A literatura influencia, marca e constrói a alma humana. Também esta tem a capacidade de destruir, desconstruir tudo o que havia antes no intuito de recriar uma alma mais forte.

Literatura pode ser apenas um entretenimento ou ser a mais ambiciosa possível e, em todos os casos, ainda carregará sempre consigo pelo menos uma semente daquilo que é intangível. Do mais profundo do que é a existência humana e do que é o mundo que construiu aquele autor. Mesmo quando o enredo em nada tem haver com a realidade é tudo sobre a realidade que de fato se vê.

Escrever é construir a si mesmo. É destruir suas certezas sobre si e sobre tudo. É tornar-se capaz de ouvir o outro e tirar disso palavras para tentar expressar o que se sente. É descobrir lugares ocultos da própria alma. É sentir como se a realidade de dentro e de fora de si fossem equivalentes ao ponto de uma não poder viver sem a outra.

Ainda que a maestria na arte da escrita seja algo para poucos, todos somos livres para experimentar dessa magia. Basta coragem, paixão e um fraco senso de praticidade. Afinal, num mundo de objetificações e urgências, sentar-se para escrever um romance é um ato de rebelião. Escrever é ir contra o que manda a regra. É como toda e qualquer arte, tão fundamental à vida e ao mesmo tempo massacrada pelas normas de um mundo do comum e do mais do mesmo.

Escrevo literatura pela chance de me sentir livre.

Escrevo sonhando com o momento em que aquela parte de mim será conhecida por um outro alguém. Faço pensando em todos esses alguém.

Escrevo porque já me acostumei à sonhar em texto e minha cabeça fica pesada todos os dias em que não jogo no papel digital um parte de toda aquela profusão de sons e vidas imaginárias.

Escrevo porque espero reconhecimento. Quero ser aceita por aqueles que leem e quero que eles se sinta mais aceitos ao ler o que escrevo. Por esse motivo muitas vezes escrevo sobre coisas que me dizem muito respeito. Sobre ser mulher, sobre ser lésbica, sobre ser alguém distante da sua terra natal, por ser alguém que vê o mundo inteiro como algo misterioso e incompreensível.

Escrevo porque só assim sou capaz de compreender uma pequena parte da minha própria alma. Escrevo porque não saberia viver de outra forma.

Não busco a maestria. Quero me emocionar e viver tudo o que só é possível viver nos sonhos de palavras. Nesse meu estranho universo individual não existe nada mais poderoso do que literatura.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Promessas de começo de semestre ainda valem de algo?

Hoje começou o quarto semestre da minha segunda graduação (não ter feito o TCC da primeira não muda o fato de eu ter cursado tudo, afinal) e tudo foi bem péssimo. Essa é a impressão que uma enxaqueca horrível causada pelas crises constantes de sinusite deixou, mas a verdade é que me sinto sempre muito bem em começar novos desafios e rever as amizades de curso (todas pessoas com as quais aprendo muito e sempre).

Para tentar aguentar a dor da enxaqueca enquanto estava no trabalho me dei um tratamento de "alegria instantânea": fui reler comentários de meus antigos fanfictions postados no Kono-ai-Setsu. Ainda que muitas pessoas desprezem o valor dos fics (um assunto que rende um debate quase infinito) devo dizer que não apenas gostei de já tê-los escrito como ainda gosto de escrevê-los quando a rotina permite. Um bom fanfiction é tão valioso quanto um fanart bem feito, ou quanto um doujinshi pensado e desenhado com alta técnica artística. E, apesar da falta de valor, tenho cá meu orgulho com meu saudoso Mastered Negima e seu texto simplório.

Mas o que isso tem haver com promessas de começo de semestre? Bom, já faz mais de dez anos que comecei a publicar aqueles fanfictions e minha vida sofreu transformações quase surreais nesse meio tempo (algum dia terei que detalhar isso), mas fato é que ainda estou só no começo do meu trabalho como escritora. Recém consegui terminar a reescrita da quarta versão de um romance original longo de ficção-científica, o que mal pode ser considerado metade do caminho para que esse texto consiga chegar à algum público que o queira consumir.

Mesmo depois de dez anos, ainda estou no começo. Mesmo que já soubesse usar técnicas bem desonestas para provocar sentimentos variados no leitor com  "Lives", minha técnica de escrita melhorou muito nesse período e ainda tem muito à melhorar. Dá um sentimento muito estranho perceber o quão cumprido é caminho que ficou para trás e também o que vem pela frente.

Não tenho como fazer promessas de começo de semestre que não seja "tentar sobreviver à carga de leituras e trabalhos do quarto período," mas ainda assim me sinto cheia de esperança em perceber que tenho sempre esse longo caminho diante de mim, se abrindo ao infinito das possibilidades, esperando que eu dê aos anseios escolhidos, a vazão em realidade que tanto merecerem.

Que sorte estar no quarto período, a professora de Produção Textual do segundo e terceiro períodos iria me matar se encontrasse um texto tão pessoal e nada "objetivo" meu online.

-LKMazaki - Agosto de 2017

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Micro-conto

O rapaz assistia toda noite ao show da banda famosinha. Conhecia as músicas, seguia o site e fazia parte dos grupos.
A banda logo deveria se tornar uma sensação nacional, mas de alguma forma isso deixava o rapaz preocupado.
Não saberia como lidar com as fãs do guitarrista, seu namorado. 

Impulso

Dois textos para terminar
Quatro livros para resenhar
Três cadeiras da faculdade com matéria acumulada
Um pensamento
O banal dos sonhos incontidos

Naves espaciais
Magos sombrios
Cidades sujas e frias, não parecidas com as que conheço
Um único pensamento
Me carrega para longe de todas as prioridades

Inversão de papéis
Num abandono de forma e rima
Métrica ou quadra,
Quarta, quinta. . .

Devaneio sem freio me leva de encontro
À parede de tijolos das responsabilidades

Ainda assim não há receio
Ou preocupação
Quando nasce o impulso do pensamento
Os sonhos despertam
E o restante parece apenas um único mar de baboseiras

LKMazaki - Agosto de 2017

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Dança Sombria

Estávamos nós, eu e Gustavo, de mãos dadas, girando tristemente ao redor de coisa alguma. Tudo era cinza e sem forma no mundo. Apenas nós dois ali, rindo e chorando, sabíamos existir. De onde havia vindo isto? Como poderia ter sido diferente?

Fazia algum tempo desde nosso último encontro. A vida agitada, os compromissos reais e os fantasiosos com os ditos sonhos, haviam nos feito distantes por mais tempo do que eu poderia lembrar.

Mas em nada ele havia mudado, não mesmo. O Gustavo nunca mudava. Sempre a mesma cara cansada, de manchas escuras ao redor dos olhos por conta da insônia. Sempre as roupas escuras e a pele sem marcas de sol. Que aparência deprimente ele tinha.

Ainda assim eu sabia, e sempre soube, que estávamos destinados a dançar novamente. Mais uma vez e para todo o sempre, girando e girando pelos dias e noites que se sucedem ao nossos passos.

Eu sou felicidade e ele é tristeza. Enquanto construo os pilares dos nossos sonhos, ele apenas espalha a terra para que tudo afunde. Eu sonho e ele grita. Mas é quando meu canto se torna um grito que ele mostra a sua força.

Foi assim que nos reencontramos. Pois por maior que seja a felicidade ela não é feita sem momentos ruins. Na solidão da minha desgraça chorei por não ser capaz de controlar o passado nem o futuro. Ele então apareceu, ouvindo meus lamentos e segurou minhas mãos:

"Aceite o desespero e nós dois poderemos nos fazer companhia por toda a jornada."

Como eu fora tola. Exibindo meus sorrisos e me gabando da minha habilidade precária. Enquanto me enchia de cores eu deixava meu lado mais frágil favorável a levar um golpe fatal. Por sorte eu apenas caí, sem ar, com dor e medo. Não morri, e Gustavo me abraçou quando me colocou de volta sobre meus pés.

Ele era quente como o abraço da nossa amada. Macio toque do seu casaco preto. Seus cabelos um tanto desgrenhados se pareciam mais familiares do que jamais eu notara. Talvez esse tenha sido o primeiro passo para que eu entendesse, uma vez mais, que não tinha como existir sem ele comigo.

As lágrimas se tornaram apenas ardor e eu esqueci sobre o passado e o futuro. Do que importava se tudo era apenas desespero? Pra quê lamentar-se do que já era feito de desgraça? Por que estive tanto tempo esquecendo daquela parte tão podre e deliciosamente viva da minha própria alma?

Dançamos. Cantamos à desgraça e à confusão. Sorrimos e rimos da nossa mesquinharia e reafirmamos nossos gostos em comum pelas sombras da alma. Somos opostos e ao mesmo tempo iguais. Gêmeos indissociáveis. Em mundos paralelos e mais próximos que pés e mãos.

Foi um belo reencontro esse nosso. Me ajudou a perceber minha tolice e achar que posso estar nessa sozinha. Eu preciso de Gustavo e de todos os outros. Todos eles. Cada um tem muito a me ensinar e apenas com a força de cada um é que poderei continuar traçando esse caminho torno, nessa estrada torta que é a vida.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Falsa Equivalência, ou a lógica do Tempo do Obscuro

Se todos os machistas são pessoas
E todos os homens são pessoas
Logo
Todos os homens são machistas

Se todas as feministas são pessoas
E todas as mulheres são pessoas
Logo
Todas as mulheres são femininas

Se todas as mulheres são feministas
E todos os homens são machistas
Logo
Todos os homens são mulheres
E todos os homens são feministas
E todas as mulheres são machistas
E todos os machistas são feministas
E você não é ninguém

LKMazaki - Agosto de 2017