sábado, 15 de dezembro de 2012

[Conto] O Feriado Perdido de Ricardo Slayer (versão curta)

Olá a todos! Vim trazer o terceiro conto do personagem Ricardo Slayer. Como sempre é algo curto, tanto que deixo bem claro desta vez no título que é uma versão inicial. Com o passar do tempo e a escrita destes pequenos contos, estou começando a ver a forma com a qual irei escrever a obra definitiva do personagem de duas mil vidas.

Vou deixar o link com a versão em pdf, se alguém preferir ler fora do browser.


Agora, fiquem com o conto. Agradeço críticas. (Aviso desde já que só fiz uma segunda leitura, sou péssima para revisão)



O Feriado Perdido de Ricardo Slayer (versão curta)
por Lilian Kate Mazaki
Novembro 2012

Ricardo Slayer acordou subitamente e levantou quase pulando. Teve certeza desde o primeiro momento que algo havia acontecido. Sua visão estava borrada e o cenário era escuro, mas ele tinha certeza de que era uma espécie de pequeno bar. Pela falta de movimento ele acreditou estar sozinho.

As mãos fizeram o movimento automático para ter certeza de que estava acordado. Uma foi para o bolso esquerdo da calça, onde estava seu celular e a outra para a alça da bolsa, que estava ali também. Ele não sabia se achava isso melhor ou pior, mas pegou o o smartphone para verificar algumas coisas.

Era dia 26. Ele já sabia, mas foi verificar no seu aplicativo de calendário para ter a sentença: sim, sua última memória era do dia 21. Haviam se passado cinco dias em sua vida e ele estava em um lugar completamente diferente.

Alguém havia tomado seu lugar. Alguma de duas outras duas mil vidas conseguira sabotá-lo e assumir seu papel durante todo aquele tempo. Talvez ele devesse entrar em pânico, mas a verdade é que de alguma forma já conseguia lidar com aquela condição única sem estranhar tanto assim.

Tinha que voltar para casa. Sorte sua que ele havia emendado o feriadão com algumas folgas, o que significava que ainda tinha dois dias para ajeitar o que tivesse acontecido antes de ter que voltar ao serviço. Existia também a chance de ele não ter mais emprego, porém isso não o preocupou muito. Na verdade uma lembrança inesperada tomou sua atenção por completo:

― Essa não! Eu não devo ter ido ao encontro no sábado! ― exclamou, batendo com a palma da mão na testa com força. Depois de tanto tempo tentando encontrar uma chance de convidar Milene para alguma coisa fora de dias de trabalho, provavelmente ele havia dado um bolo nela. Isso sim era uma possibilidade que o amedrontava imensamente, ter perdido para sempre a chance de tentar sair com a colega de serviço.

Finalmente ele conseguiu enxergar melhor o pequeno bar onde se encontrava. O local parecia estar fechado a alguns anos já, pois havia poeira e teias grossas pelas cadeiras e mesas. Seus olhos correram o local e ele viu o cartão de visitas que estava cuidadosamente depositado logo à sua frente, na bancada mofada do estabelecimento. Nele havia somente uma frase escrita à mão. Uma simples sentença que não faria sentido para ninguém no mundo que não fosse Ricardo Slayer.

“Eu sou você”

Um arrepio correu pelas costas do homem e instintivamente ele agarrou o cartão e se dirigiu à porta visível daquele moquiço. Sua visão periférica mostrou que havia alguém caído em meio à sujeita no seu lado esquerdo.

Não, ele não viu nada. Seu corpo estava dolorido e pesado, então aquele vulto inerte podia significar algo bem pior do que perder o encontro. Sim, ainda existiam coisas piores do que isto.

Ricardo saiu do lugar e viu-se em uma pequena ruela de uma cidade aparentemente pequena. Torcia para ainda ter algum dinheiro consigo, senão seria bem mais trabalhoso retornar à capital.

Ao tentar pegar o celular mais uma vez do bolso, Ricardo percebeu que ainda estava com o cartão na mão. Olhando-o melhor viu que havia algo escrito no outro verso.

“334 – Ricardo Slayer – Detetive Multidimensional”

A vida não parava de trazer surpresas para a vida comum e sem graça do homem de duas mil e uma vidas.

Meu primeiro conto de terror

Olhou para o céu noturno. Não haviam estrelas. Ela mexeu nos cabelos finos e negros para aliviar um pouco do calor na nuca e seguiu seu caminho.
Já passavam das vinte e três horas e não havia qualquer viva alma nos arredores. Viva, ou morta, qualquer forma de vida inteligente evitava cruzar o caminho daquela que apenas caminhava quando não mais se enxergava qualquer luz do sol. Nem mesmo no reflexo da lua.
Sua aparência ainda era a mesma de antes de tudo o que lhe sucedera. A imagem perfeita de uma moça de vinte e poucos anos um tanto reservada. Não havia nenhum traço do que havia se transformado o ser que habitava por debaixo da pele alva e delicada. Se por fora ela ela uma mulher perfeita, não se saberia denominar o que havia no interior.
Além de talvez, um demônio.
Ela era capaz de relembrar diariamente todos os assassinatos que testemunhara. Quase todos ela mesma havia causado, das maneira mais sangrentas o possível, com direito a orgãos estraçalhados e devorados com voracidade. Não era doloroso, não era assustador. Era apenas uma maldição que sequer havia feito questão de tentar entender. Tudo o que importava é que precisava saciar sua fome quando ela sobrevinha.
Como naquele noite parada de quase verão.
Em um momento, em meio ao seu caminhar quase silencioso, um farvalhar de mato pode ser escutado de longe. Os olhos negros e aguçados dela logo localizaram a origem. Aparentemente era um menino de rua, saindo do meio da vegetação que se espalhava pelo terreno baldio e sem muro. Devia ter acabo de aliviar suas necessidades e agora arrastava-se para o pequeno monte de trapos que seriam sua morada por aquela madrugada.
O pequeno não devia ter mais do que doze anos. Sujo, magro, de aspecto doente e débil. Ela pode perceber claramente que pouco restava de humanidade também naquele pequeno corpo. Todo o resto já havia sido quase devorado por inteiro pelas drogas. O cheiro de podridão que exalava só atraia ainda mais a atenção da criatura que conhecia bem a noite
Ela sentiu um arrepio correr pelas costas. Ainda que fosse uma criatura maldita, seu corpo ainda respondia a diversas sensações, inclusive à adrenalina causada ao encontrar uma presa que atraía seu paladar. De repente os pensamentos sem emoção foram substituídos por uma gana insana por sentir a textura da carne ainda viva descendo pela sua garganta.
Avançou. O maltrapilho ainda teve tempo o bastante para ver sua aproximação. Pela sua expressão devia conhecer o mito que já era de conhecimento da lenda urbana. Porém isso foi tudo, pois seu corpo sequer chegou ao chão ainda inteiro. Seus orgãos se espalharam pelo chão enquanto suas tripas esguichavam sangue, enquanto ela arrancava os pedaços, voraz.