segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Seria a consciência uma ilusão narrativa?

O texto a seguir é um fluxo de pensamento. Não é algo estruturado, mas sim um conjunto de idas e vindas de ideias transcritas da forma mais crua o possível, no momento em que foram colocadas em linguagem.

Trilhões de neurônios. Robôs que criam robôs e que geram uma consequência inusitada: a consciência.
A consciência é o ruído proveniente da ação desses bilhões de robôs celulares?
Somos ruído.
O fluxo de consciência não é único nem linear. Ele repete fatos e falas, mas também cria coisas novas, o tempo inteiro.
Se somos ruído, somos ruídos capazes de desvendar o Universo?
Ruído.
Se somo ruídos, basta que uma máquina também tenha bilhões de bilhões de partes lógicas independentes que esse mesmo tipo de ruído irá surgir naturalmente.
E então estará provado.
Somos consequência, não consciência.
Somos ruído.
Ruído que cria ruídos, que constrói o que não existe. Somos o ruído capaz de criar Universos novos, intangíveis. A cada segundo, para toda a eternidade.
Narramos a nós mesmos como se fôssemos um único personagem.
Obedecemos esse personagem
Ele é apenas um personagem
Não existe um Eu real, apenas uma forma narrativa que é resultado tanto de fatores químicos internos e inerentes ao caos dos robôs celulares, quanto à nossa própria capacidade de acreditar que existe um Eu real que determina como nós agimos.

A pergunta fundamental (Quem sou Eu?) é uma bobagem, afinal o Eu não é Ninguém e é todos ao mesmo tempo.
A consciência é o Tudo e o Nada.

A consciência surgiu apenas por conta da evolução? Essa evolução foi deliberada?
É possível, afinal um sujeito consciente é capaz de compreender abstrações do que um sujeito que age apenas em função de seus instintos subconscientes. É a diferença entre um cão e um homem. O homem é capaz de fazer coisas completamente sem sentido físico direto, mas que o levam à situações mais confortáveis ou favoráveis à sobrevivência.

A consciência é um ruído, mas não é um acidente.
A consciência é um ruído descontrolado, guiado pela linguagem, moldado para nos tornar capazes de sobreviver à muito mais do que os outros animais.
Mas somos falhos, nosso egoísmo e nossos impulsos violentos nos tornam destrutivos para com os outros.
Egoísmo, pensar apenas em si. Parece estranho que uma coisa ilusória como a consciência se preocupe tanto consigo mesma.
Ao mesmo tempo
É apenas sendo egoísta que a consciência consegue atingir seu potencial máximo de evolução. É assim que ela nos torna capaz de sobreviver à custa de outros, objetificá-los, ter vantagem, confortos e segurança extra. Segurança nunca é demais para a evolução.

Ou talvez seja.
Pois quando chegamos ao mundo onde conceitos importam mais do que perigos reais começamos a acreditar que realmente o tal Eu é algo que precisa ser entendido e elevado.
Nosso Eu é mais importante que o Eu dos outros.

A capacidade de abstrair estar no centro disso tudo.
Mas é notório que nossa consciência tem muitas falhas.
Ela é fraca e limitada
Pois nos prendemos à ilusão do eu
Pois somos incapazes de perceber o futuro com clareza
Por isso criamos perspectivas falsas
Criamos cenários irreais e acreditamos em falácias com muita facilidade

Somos nossas consciências?
Talvez no estado atual das coisas podemos dizer que sim
Somos os seres desse ruído
O ruído proposital
Porém estamos tão mergulhados no mundo dos ruídos que ganhamos novas camadas de complexidade que podem nos fazer bem, ou fazer mal
É a capacidade de ter crença. A mesma que pode nos fazer sobreviver às estações do ano ou pode nos levar à matar milhões de outros seres vivos sem piedade.
Mas afinal isso é mesmo algo ruim?
Os valores são coisas criadas por nós.
Mas do ponto de vista evolutivo criar violência não é inteligente quando ela gera a possibilidade de revanche, de retorno dessa violência contra nós.

Está dizendo que não existe a moral ou a bondade?
Nunca existiu.
É tudo coisa desse ruído maluco
Esse ruído

Agora, voltando à questão narrativa
Nós criamos personagens e nós mesmos interpretamos um personagem
Mas por que é assim?
Penso que possa ser uma questão de limitação
Assim como não somos capazes de falar diversas frases ao mesmo tempo, pois só temos uma boca,
Não somos capazes de nos compreender como seres diferentes ao mesmo tempo
Ainda que sempre sejamos diferentes
Somos a pessoa da faculdade
A pessoa do trabalho
A pessoa da família
A pessoa com nós mesmos
Buscamos, em alguns casos, harmonizar essa visão de quem somos
Criar uma narrativa coesa
Pois a falta de coerência é algo que nos incomoda
Mesmo em nós mesmos
Cria um tal "peso na consciência"
Por que não somos capazes de lidar com o fato de não sermos uma pessoa só
Nem mesmo de um minuto para o outro
Nem mesmo de hoje para amanhã
Somos o ruído
Uma resposta de instintos domados por pensamentos abstratos
moldados por linguagem
Linguagem oral, na maioria das vezes,
Mas também linguagem gestual, por libras, por imagens

Talvez seja difícil pensar que existe pensamento sem linguagem porque somos totalmente emoldurados sobre essa estrutura comunicativa
A língua
Mas isso não é uma verdade
Não somos capazes de pensar hoje sem palavras
Por que já crescemos tempo demais pensando com palavras

O pensamento por si só é uma questão muito interessante.
O que é o pensamento?

Tudo tem um motivo instintivo e biológico
Tudo é satisfação e segurança
Tudo
Mesmo o amor
Mesmo o ódio
Talvez seja fácil notar no medo
Mas é nebuloso se pensar nisso à respeito da ética
Mas todos são biológicos

O que leva à busca do conhecimento?
Satisfação
Nos tornamos complexos à ponto de compreender abstrações em níveis muito superiores à Abstração Primeira
Nós mesmos
O Ruído
Abstração Primeira
Eu
Consciência
Não existe nenhuma consciência?
É como a tela do celular
Uma cara
Na frente de sistemas muito mais complexos

Só vivemos de maneira narrativa
Não entendemos o espaço
o tempo
eu
o outro
o mundo
sem ser por narrativa
construímos narrativas desde que aprendemos sobre o tempo
mas só aprendemos sobre o tempo por termos memória do que já aconteceu
memória
marca do tempo que passou
aprendemos à duras penas sobre ação e reação
chorar nos deixa sem ver televisão
nossos pais nos ensinam sobre tudo isso
através da moldura da linguagem
Língua
As línguas são moldes de realidade
Realidade
A Abstração Segunda
Vem logo após o Eu
A Realidade é uma abstração do que nosso sentidos são capazes de captar
Com fatores lógicos e abstratos que construímos a partir de memórias e sensações

Se não somos os mesmos de cada segundo no passado
Escrever é o ato de colocar a expressão linguística desse ruído interminável em um espaço
seja digital
seja físico
Escrever é gravar o fluxo de linguagem que existe em uma parte do nosso pensamento
A ficção e a realidade são abstrações no mesmo nível
São Abstração Segunda
Pois ambas se passam em nosso Ruído
e ambas são intangíveis
ambas dependem só da nossa visão
ambas são reconstruções de conceitos apreendidos externamente
ou pelo menos reconstruções desses mesmo conceitos
repetição e reaparecimento
releitura
aprender palavras é aprender novas maneiras de construir abstrações

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