quarta-feira, 4 de agosto de 2010

[Lives] 22 - Eternidade em uma hora


            O sol já começava a se aproximar do horizonte naquela tarde dentro do refúgio de Evangeline. Como era de costume quase todos os membros da Ala Alba estavam presentes no lugar, alguns assistindo ao treino diário do jovem professor-mago, outros tendo seus próprios treinos, e outros ainda fazendo coisas nada relacionadas a treinos ou lutas.
            Estranhamente Setsuna Sakurazaki se encontrava no terceiro grupo de pessoas. Deveria na verdade estar treinando como sempre fazia no refúgio para melhorar sua técnica, mas naquela tarde não estava conseguindo se concentrar em nada direito. Isso porque uma estranha sensação que não conseguia discernir estava incomodando-a desde que acordara naquela manhã. Ao invés de treinar observava o de Negi contra Chachamaru e Chachazero de longe com o olhar vago, mas isso provavelmente não tinha haver com a sensação misteriosa, mas sim com o fato de Konoka estar com a cabeça deitada no seu ombro a quase meia hora respirando no seu cangote:
            - Ah... Kono-chan? – chamou a espadachim corada pela situação. Mesmo que tivesse “se entendido” com a quase-maga, não lhe agradável nem um pouco a idéia de expor essa nova fase da relação das duas as outras garotas, principalmente e repórter e a mangaka (provavelmente Mahora inteira saberia menos de vinte e quatro horas depois se a informação caísse nas mãos da Paru). Já bastava Negi, Asuna e Kamo terem visto o “cuidado médico” que Konoka havia aplicado-lhe após o treino da tarde anterior.
            - O que foi Set-chan? – perguntou Konoka com a voz calma. Acabara de descobrir que o cheiro da pele de sua protetora tinha um forte efeito anestesiante sobre seus sentidos normais e um efeito... “bem interessante” sobre outros sentidos que ainda não conhecia bem em si mesma.
            - Ah... – Setsuna reparou no tumultuo que se fazia mais adiante: parecia que as garotas haviam conseguido uma desculpa para iniciar uma festa com o estoque pessoal de vinho de Evangeline que estava esbravejando. De repente uma idéia bem ousada e ao mesmo tempo extremamente convidativa surgiu na mente da meio-uzoku.
            - Que houve? – perguntou a garota de longos cabelos erguendo-se para olhar a outra nos olhos. – Que cara é essa Set-chan?
            Setsuna corou por um instante, mas rapidamente acalmou-se. “Vamos lá... qual o problema afinal?” disse sua consciência apoiando seu instinto que dizia para dar vazão a sua idéia repentina. O estranho é que essa vontade parecia surgir de algum lugar próximo de onde estava a estranha sensação que vinha tendo o dia todo:
            - Você quer voar? – perguntou a espadachim com um olhar direto e sem nenhuma timidez para Konoka que sentiu o coração dar um pulo diante dos olhos profundos da garota.
            - Voar? Agora? – perguntou confusa e ao mesmo tempo ansiosa.
            - É. Pra algum lugar mais calmo. – Setsuna não sabia por que, mas sentia que aquilo que dizia era a coisa mais certa a se fazer naquele momento. Mesmo que o convite dela pudesse ser interpretado de uma maneira maliciosa, a quase-maga sentia que não havia realmente nada de tão obscuro assim nas intenções de sua Set-chan. Que seria de tomar uma atitude assim tão repentinamente seria.... aquela outra pessoa.... mas ela já tinha ido para sempre.
            - Ta bom.
            Sem que as outras garotas notassem (elas pareciam mesmo era muito concentradas em fazer Evangeline aceitar de vez que se embriagassem com seus vinhos raros) Setsuna pagou Konoka no colo e abriu suas asas. Konoka sentiu uma emoção intensa ao ver aquelas asas brancas e límpidas. Nunca se cansaria de ver a figura angelical de sua Set-chan naquela forma. Ficava incontestavelmente igual a uma criatura divina daquele jeito (mesmo que ela própria nunca tivesse visto mesmo uma criatura divina alem dela). Era mesmo a garota de mais sorte no mundo por ser amada por seu anjo. Setsuna voou e desceu, desceu até a praia que havia no refúgio. Ali com certeza era bem distante dos olhares das outras pessoas. Era o local perfeito para passar algumas horas, ou quem sabe a eternidade, desfrutando da companhia intima de sua princesa.
            A quase-maga não fez cerimônia sentando-se na areia perto do mar e puxar Setsuna para o seu lado. O céu estava começando a tingir-se de um laranja vivo e as duas passaram alguns segundos em silencio admirando a beleza daquele pôr-do-sol ilusório tão belo:
            - Isso é melhor do que qualquer sonho que eu já tive, Set-chan. – disse Konoka quebrando o silencio, seus olhos ainda observando o horizonte. – Estar com você aqui agora é um sonho único.
            Setsuna sentiu o coração aquecer-se a essas palavras. Mesmo que já tivesse ouvido antes, ainda era como algo inimaginável para ela. O amor de sua Kono-chan... quanto tempo havia sofrido por acreditar sentir algo não correspondido, por pensar que nunca poderia expressar seus sentimentos tão... verdadeiros. Mas tinha mesmo se tornado verdade que sua Kono-chan a amava e isso era algo tão incrível que ainda era difícil de acreditar:
            - Eu... também... – a espadachim tentava dizer sem conseguir vencer completamente a timidez. Era tempo demais reprimindo seus sentimentos para libera-los de maneira tão fácil. - ... também estou muito feliz... de estar com você... aqui...
            Konoka virou-se para encarar Setsuna. Os olhos negros da hanyo pareciam um abismo sem fim no qual queria perder-se para sempre. Sentia como se tivesse lutado toda a suas vida apenas para poder agora ver-se de frente para aqueles olhos. Sem perceber foi aproximando seu rosto do da “quase-alguma-coisa” que não fez nem menção de se afastar ou mesmo ficar desconcertada. Talvez também estivesse hipnotizada pelos olhos cor de chocolate da Konoe:
            - Eu te amo de verdade Set-chan. – disse sem realmente perceber que falava e Setsuna aproximou-se mais. Konoka estava com o corpo quase encostado no da guerreira e ambas podiam sentir o calor do corpo uma da outra. Setsuna se conteve apenas por um segundo antes de acabar com a distancia que separava seus lábios dos de sua princesa.
            Konoka perdeu a noção de realidade em meio as carícias de seu anjo. Setsuna degustava os lábios da maga com muito mais vontade e menos timidez do que fizera da vez anterior. Aos poucos os beijos foram se tornando mais quentes e profundos. A cada minuto que provava um pouco mais do calor da boca de Konoka, a espadachim tentava provar um pouco mais. Em determinado momento moveu-se e segurou o queixo de Konoka para que pudesse beijá-la profundamente. A quase-maga apenas aproveitava para também sentir o gosto que tinha sua Set-chan. Estava entorpecida por aquelas sensações de prazer, teve certeza que nenhuma bebida ou coisa qualquer poderia levá-la aquele estado de completo esquecimento do mundo.
            “O que é ‘mundo’ mesmo, afinal?”.




            O tempo foi passando sem que as duas percebessem e a noite caiu completamente tornando o céu negro e pontilhado de um número de estrelas sem fim. Setsuna envolvia a quase-maga completamente com o calor do seu corpo e dos seus beijos e Konoka segurava a espadachim junto a si com o a mão. Apenas depois de um tempo que parecera sem fim para ambas, elas se separaram e encostaram as testas. Setsuna manteve-se de olhos fechados como se relutasse em acordar de um sonho maravilhoso e Konoka admirava a face linda de sua protetora com um sorriso abobalhado que nem percebia estar:
            - Já deve ser tarde. – comentou a espadachim ainda sem abrir os olhos sentindo o vento frio. – O mar já esta esfriando...
            - ... – a outra apenas continuava a admirar sua “praticamente-alguma-coisa” com um sorriso que parecia querer se tornar perene ali. Setsuna abriu os olhos e encarou o rosto absurdamente belo e fofo de Konoka. Um terno sorriso também surgiu na face dela. Queria ficar ali pelo resort da vida a admirar a criatura mais bela do Universo. Infelizmente seu senso de “estraga-prazeres” despertava muito rapidamente e ela não conseguia ignorar o fato de que já devia ser muito tarde.
            - Melhor voltarmos lá para cima. – disse ela despertando de vez e trazendo a quase-maga também de volta ao mundo.
            - Dorme comigo, Set-chan?
            - Quê?!
            Dez minutos depois as duas entravam silenciosas pelo dormitório do refugio. Realmente deveria ter tido uma farra daquelas: havia copos e restos de comida por todos os lados, as garotas pareciam ter desmaiado depois da festa. Ninguém ali movia um músculo sequer enquanto dormia.
            Konoka foi até um armário próximo para pegar um pijama. Havia se tornado tão normal a presença do grupo no refúgio outrora particular da vampira que já havia roupas para todas dormirem de reserva. Sem o menos pudor Konoka começara a despir-se e Setsuna corou violentamente ao virar-se para esta e vê-la desabotoando o sutiã. Teria gritado se não soubesse que isso acordaria a todas. Levou as mãos a boca e virou-se costas bruscamente. A quase-maga riu-se da reação da “realmente-ex-amiga”  e continuou trocando-se calmamente.
De repente ocorreu a Setsuna que as duas dormiriam na mesma cama aquela noite. Seu rosto avermelhou-se perigosamente, mas a garota tratou de acalmar-se. Claro que nada aconteceria, e isso por dois motivos bem claros: não estavam realmente sozinhas ali (“Ah... nada que um pouco de silencio ou mesmo um feitiço de surdez não cuidasse”).......... ah........ bem, e dois: ainda era mesmo muito cedo para.....(“fazer coisas bem divertidas?”), NÃO! Ah....... a-a-adiantar tanto o relacionamento delas. Estava tão bom curtir cada novo passo assim, sem muita pressa.... por que avançar o sinal assim agora?(“Por que seria BOM demais....”)......................hum, a meio-uzoku nunca se acostumaria com as opiniões que vinha do seu sub-consciente...
“Ah.... os leitores vão mesmo ficar chupando dedo?! Que maldade....”.
- Não vem Set-chan? – chamou Konoka e só então Setsuna virou-se novamente na direção desta. A garota já estava sentada como uma criancinha esperando a hora de ir para o parque em uma cama de solteiro. De solteiro?! Ah... tinha mesmo que afastar esses pensamentos ‘sujos’(“Sujos nada! Ótimos!”). Se não, não conseguiria pregar os olhos aquela noite. Balançou a cabeça com força antes de ir até a Konoe.
Deitaram e Konoka rapidamente aninhou-se nos braços de sua Set-chan com o rosto não muito distante do desta. Setsuna sorriu, já estava completamente sob controle e podia admirar a fofura de sua princesa sem temer fazer ‘bobagens’ (“Ah.... estragou a onda dos leitores mesmo!”).  Sono veio caindo sobre ambas rapidamente. A sensação de paz que sentiam cooperava incrivelmente para isso. A sensação de aperto que Setsuna sentia no peito havia desaparecido completamente. Era como se estivesse em paz por ter aproveitado verdadeiramente o tempo que tinha e agora não precisasse temer nada:
- Quero viver tardes assim para sempre Set-chan... – disse Konoka com os olhos semi-cerrados.
- Eu também Kono-chan. Quero ficar assim pra sempre com você... – respondeu Setsuna adormecendo logo em seguida e rapidamente a Konoe também dormiu. Tiveram sonhos tranqüilos aquela noite, na verdade o melhor sonho deveria ser relembrar as horas aproveitadas naquela tarde ilusória. Ambas tinham certeza de que nada podia separa-las ou lhes fazer qualquer mal. Tinham uma a outra.
“Gostaria mesmo que isso fosse verdade” disse uma voz no escuro daquela noite literalmente mágica.

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