quarta-feira, 4 de agosto de 2010

[Crônica] Parada Obrigatória

Ele era apenas uma pessoa como todas as outras, ou ao menos queria que assim fosse, mas isso estava bem longe da realidade. Porque deveriam existir pessoas diferentes no mundo se é tão mais fácil ser igual? Essa com certeza deveria ser a questão que mais atormentava a mente daquele jovem homem que sonhava não precisar realizar sonhos.

Se essa fosse uma estória comum esta seria apenas mais uma noite onde ele estaria indo tarde para casa por causa do seu trabalho. Não era realmente um trabalho dos mais tradicionais, mas ainda assim era a coisa mais normal que havia na sua vida. As ruas estava já desertas e frias, o que o fazia tremer, mas de medo, pois não era nada comum uma metrópole como aquela ter ruas vazias, mesmo próximo a meia-noite.

"Ser diferente é a coisa mais detestável do mundo", esse era o seu lema. Porque não tinha sido uma criança bagunceira? Tinha mesmo que ter sempre adorado se enfiar em bibliotecas só para ser chamado de cdf na escola? E depois, quando chegou na adolecência... a vida tinha mesmo que ser assim para ele? Todos os dias desejava que nunca tivesse acreditado que realizar sonhos era possível, pois foram graças a aqueles sonhos ingênuos que tinha parado naquela situação, fugindo de tudo e sendo seguido pelos fantasmas que tinha criado para si.

O vento soprou forte e as árvores foram agitadas, ele podia sentir que não chegaria em casa do mesmo modo que todas as noites nos últimos seis meses, não, mas queria, queria tanto apenas sentar na frente da televisão e assistir programas inúteis no início de fim de semana, mas não.... Fazer o que, ele também não era capaz de assistir a esses programas, era diferente demais para atura-los. Como são abençoadas todas as pessoas que podem contribuir livremente para os índices do Ibope.

Nada era possível, nada era possível, tinha que acreditar nisso, a noite não trás nada, nada, ainda tinha esperanças de acordar de volta nos seus 19 anos, antes de tudo ter começado. Sim, era a única explicação lógica, afinal sua vida era absurda demais para ser real, não, não devia ser mesmo, estava sonhando! Sonhando, escutaram?

Caminhando por uma rua mais clara, porém com um ar ainda mais deserto ele sentiu: mais a frente havia alguém que o esperava. Teve muita vontade de voltar correndo e correr até desmaiar, mas não adiantaria, se não adiantou das últimas duzentas vezes, não seria hoje. Ele parou a cinco metros do ser e escutou a sua voz:

- Hoje, meu amigo, você uma parada obrigatória aqui, comigo.


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