quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A incrível arte de "botar uma história pra fora"

"Escrever é reescrever" é um dos ditados mais conhecidos e mais ignorados entre aqueles que fazem da escrita literária um hobby ambicioso, especialmente entre a massa dos aspirantes (ou os que ainda estão achando a Jornada do Herói uma grande novidade). A verdade é que a resistência (às vezes mesmo consciente e teimosa) dos aspirantes a aceitar que um texto não vai ser escrito a primeira vez já da forma bela e definitiva que ficará é uma das maiores barreiras para o avanço do trabalho destes entusiastas.

Botar uma história para fora é o processo mais mecânico de toda a cadeia de eventos necessários para colocar um conto, ou livro, no mundo. Não é a primeira etapa, e sim a segunda (visto que o planejamento inicial é onde tudo tem começo) deste processo e é, dependendo das proporções do projeto, uma etapa muito demorada, podendo tomar semanas, meses e mesmo, em alguns casos, anos.

Porém este processo é valorizado em demasia por quem ainda não adquiriu uma experiência maior no labor literário. Escrever a primeira versão é sim (e enfatizo) importante, mas não é a etapa decisiva da produção de uma história. Querer que cada frase saia na melhor forma possível na primeira escrita é adicionar um peso estrondoso e desnecessário ao ato de, quase literalmente, cuspir centenas, ou milhares, de frases num pedaço virtual de papel. É produzir a matéria-prima que será posteriormente modelada, talhada, cozida e retocada até atingir todo o seu potencial como uma obra de arte.

Infelizmente não existem truques ou atalhos para criar em si a capacidade de, ao sentar-se diante do computador em um dia qualquer, conseguir escrever uma grande quantidade de texto, estando ou não com "inspiração" ou motivação. A única forma é o esforço contínuo, praticamente diário, enfrentando a próprias armadilhas montadas pela psique. Nada menos do que uma dose generosa de perseverança é precisa para manter-se no intuito original de tornar-se "profissional" na forma de lidar com a escrita. E é só por esse meio que se consegue chegar a alguma lugar.

Por isso essa arte é "incrível". Não é algo simples ou fácil aprender a colocar histórias para fora sem dar voz ao "editor interno". Talvez seja ainda mais duro ao, enfim realizar este grande feito, perceber que, como dito antes, essa etapa é apenas a segunda de tantas outras, tão ou mais vitais, para a produção de uma obra. 

Uma recompensa agridoce que motiva e torna a desafiar a cada dia. Assim como é toda a jornada de ser um contador de histórias.

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