sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A importância da não-ficção

No início desta semana acabei participando de uma corrente de postagens no Facebook, algo que normalmente não faço. Abri esta exceção pelo fato da corrente em si ser um "desafio" de listar 10 livros importantes de sua vida. Pois bem, depois de montar minha lista acabei reparando em algo que posteriormente foi até citado por alguns amigos: a quantidade de livros de não-ficção que coloquei no meu "Top 10" leituras. Não creio que esse fato seja motivo para que eu me "vanglorie" de alguma individualidade ínfima de gosto (o que seria ridículo da minha parte), mas abriu espaço para uma breve reflexão que gostaria de dividir com vocês, leitores do Creative 1000%

A não-ficção é, ou deveria ser, relevante para quem escreve ficção?



A importância da não-ficção



Fantasias épicas, jornadas espaciais deslumbrantes, romances apaixonantes. . . São muitos os aspectos que podem fazer de uma leitura uma experiência insubstituível para uma pessoa. Talvez um personagem de um filme tenha uma passagem de fala que toque o mais profundo do ser do expectador, tornado essa criatura imaginária permanente nos sentimentos desse alguém. Porém, é preciso lembrar sempre que nenhuma ficção vem de outro lugar que não. . .

Da Realidade.

Livros de não-ficção se dividem em várias modalidades. Desde didáticos, até históricos e de auto-ajuda. Cada um tem sua função dentro das necessidades do mercado consumidor de literatura (mesmo aqueles gêneros tão criticados, sem razão, como a Auto-Ajuda) e tem objetivos diversos entre si. Porém o material de trabalho de boa parte destes livros é debater, ou explanar, sobre algum aspecto da realidade, seja de maneira educativa, científica ou emocional.

Existem livros que falam sobre História, onde os autores são especialistas que buscam informações concretas sobre o período que é objeto de estudo. Apesar de ocorrerem erros históricos em alguns casos, devido à escassez de informação (ou ventura de incapacidade do autor em buscar boas fontes) é comum que muita informação real seja trazida em uma obra deste tipo.

Também existem livros que falam de teorias de menor conhecimento da população em geral, de modo mais simplificado. Citando aqui exemplos como Universo em uma Casca de Noz, de Stephen Hawking, Cibercultura, de Pierre Lévy, e O Homem e Seus Símbolos, organizado por Carl Jung. 

Se pudermos abrir um pouco mais o horizonte de fatos poderemos ver que mesmo livros de empreendedorismo, ou de inteligência emocional, podem ser material de grande valia para pessoas que ocupam sua mente e vida com a Ficção. O valor de tais obras reside exatamente em retratar algo da Realidade, pois tudo da Realidade pode ganhar nova figura quando jogado sobre a Ficção.



A não-ficção trata de temas de forma concreta e, muitas vezes, sistêmica. São trabalhos nem sempre voltados para um público leigo, porém existem diversas entre essas publicações que exigem apenas um pouco de paciência e interesse por parte do leitor para revelar uma gama de conhecimentos novos e profundos sobre um assunto.

E é essa a palavra chave da não-ficção: Conhecimento. Um livro como "O homem e seus símbolos", que organiza e apresenta em linguagem acessível todo o Universo de ideias de Jung tem a incrível capacidade de trazer para uma pessoa que jamais fez faculdade de Psicologia a chance de conhecer (mesmo que com várias limitações) uma gama de conceitos que jamais encontraria de modo tão claro e sistêmico em um livro de ficção (ainda que, uma infinidade de obras sejam construídas sobre os preceitos do arquétipos enumerados por Jung em suas pesquisas).

Um bom livro de história pode apresentar fatos trazidos com muito trabalho por seus autores para os olhos de pessoas que jamais teriam como saber sobre tal período.

Mesmo um livro de filosofia antiga, como por exemplo o Tao Te Ching, pode trazer a um autor um ramo de pensamentos e sentimentos novos dos quais poderá se aproveitar para seu futuro trabalho. Como poderíamos mergulhar mais fundo na alma de uma pessoa do que com suas poesias sobre a Alma e o Universo?

Ou seja, não é apenas lendo ficção, assistindo séries de ficção ou comentando sobre a Jornada do Herói que é possível obter conhecimentos a serem utilizados para criar ficção. A Realidade, retratada através de livros de não-ficção, é uma janela aberta para chegar a novos conceitos e entendimentos sobre questões que talvez, sem o auxílio destes, jamais poderia se alcançar.



Nem tudo serve a todos

Não poderia fechar esta breve reflexão sem deixar claro que influências e conhecimentos são coisas que se moldam ao olhar de cada um de maneira individual. Ou seja, não é porque ler não-ficção seja bom para algumas mentes criativas que deva ser uma obrigação a todos aqueles que querem ser aspirantes à escritores ou roteiristas. É apenas mais uma via, de tantas que o mundo coloca à nossa frente a cada novo amanhecer.

O que tudo isso significa: ler não-ficção pode ser enriquecedor pra caramba. Experimente, talvez você venha a gostar, mas, se não for o caso, tudo bem, cada um tem seus gostos mesmo.

Lilian K. Mazaki

Um comentário:

Kleris disse...

E é essa a palavra chave da não-ficção: Conhecimento. (2)

Ultimamente tenho procurado livros fora da zona de conforto - até mesmo no âmbito literário - e um dos que gostei muito foi um sobre etiqueta (Alô, chics!). Não é uma leitura tão imersiva qnt a literária, mas nem por isso gostosa. Andei tbm participando desses desafios de mural de FB e fiquei a testar a mim mesma. Sei lá, aquela coisa de colher além do óbvio? Comecei o ano com essa proposta, de explorar o outro lado.
Acho que a não-ficção é mto subestimada (mais até que a autoajuda). Na verdade, indicaria "Alô, Chics!" pra todo autor que gostaria de sair da saia do óbvio/do clichê. Lá tem um prato cheio de situações e adversidades tão cotidianas quanto ignoradas. E são parte da realidade. Eu gostaria de vê-las entremeadas à ficção, esta que anda se repetindo demais (ou eu que tenho lido repetido...)