terça-feira, 23 de setembro de 2014

Regras: Seguir ou Descontruir?

Existe um debate infindável entre escritores e aspirantes a escritores quando o tópico é: "Regras, seguí-las ou pervertê-las?". Existem opiniões formadas em ambos os lados e parece impossível em alguns momentos se chegar a um consenso a respeito. Porém, com uma visão um tanto mais distante e racional é possível ver o quanto ambos os lados são complementares e devem ser levados em consideração por autores e potenciais autores na hora do trabalho literário. É a velha máxima do "nem um, nem outro, mas sim ambos."


Regras: Seguir ou Desconstruir?



Muitas vezes o motor dessa questão começa com uma pergunta semelhante a: "Será que eu posso fazer isso com minha história/personagem?". O autor busca então algum marco de referência ou opiniões sobre situações semelhantes à sua para encontrar uma luz para seu problema. É neste momento que, normalmente, se encontram as duas linhas de opinião:

1 - Você pode/não pode devido às regras X, Y e Z, ou

2 - Você pode, afinal tudo é possível quando se trata de Literatura de Ficção.

No primeiro tópico é comum que idéias mais ousadas ou que esteja foram dos paradigmas até então mais comuns sejam rejeitadas ou mesmo tolhidas. 

Um exemplo que atualmente é até recorrente é dos palavrões e linguagem obscena. Quando se pergunta a esse respeito, ou se procura por informação (seja online, ou offline, com contatos) logo surgem opiniões negativas, baseadas em uma série de conceitos pré-estabelecidos (seja por senso comum, ou pela própria ideologia pessoal de quem tem esse tipo de argumento).

Já no segundo tipo de opinião, muitas vezes se encontram dois tipos de atitudes: a impaciência ou a prepotência de quem pensa desta maneira. Explicando melhor:

A impaciência surge, muitas vezes, quando esse tipo de opinião acaba sendo repetida à exaustão, pois todos os dias surgem novos aspirantes, e mesmo os veteranos aparecem com dúvidas que toquem neste ponto. Quando alguém é da opinião de que "tudo pode", praticamente qualquer resposta que terá para uma pergunta de conceitos ou "o que se pode fazer quando" será algo como: faça o que quiser fazer; você pode fazer; faça de uma vez. A repetição do argumento simplório acaba criando esse estresse nessa opinião, o que muitas vezes termina por criar uma visão...

Quanto à prepotência é bom frisar que, ainda que não seja algo na íntegra, boa parte dessas atitudes são precedentes de autores que utilizam este argumento para validar a própria ignorância quanto a alguns tópicos. Ou seja, para tornar sua própria atitude justificável



Os erros de ambos os lados



Falar de Literatura, assim como qualquer forma de Arte, acreditando que tudo é regido por um sistema de regras universais inquebráveis é uma atitude que encaminha para um ponto perigoso: a mediocridade. O famoso "fazer mais do mesmo" ou então algo como "está bem feito, mas não parece ter valor em si."

Em oposição acreditar que todas as regras são normas engessadas que apenas irão tolher o pensamento revolucionário que a Criação precisa possuir e, portanto, devem ser ignoradas ou mesmo combatidas, é uma visão igualmente torpe do trabalho literário enquanto criação e técnica.

Existem momentos em que as regras irão servir ao artista, lhe mostrando meios de solucionar questões sem perder a tão buscada Verossimilhança. 

É preciso ter em mente que as regras nunca precederam qualquer obra, mas sim o oposto: Não foi o termo Ficção-científica que possibilitou Mary Shelley escrever Frankenstein ou Asimov a criar as Três Leis da Robótica. Foram essas obras e tantas outras abarcadas neste gênero que, ao serem observadas, foram agrupadas em um termo conhecido como Ficção-Científica (e todas as suas ramificações). Os termos, regras, observações e sugestões são criados a partir da observação, num viés típico da natureza humana de organizar e classificar tudo o que existe.

O que quero dizer com tudo isso é: as "regras" nunca são absolutas. É preciso ao menos conhecê-las para então saber que é possível ir contra elas de uma tal maneira que não se perca nenhum dos grandes chefes da ficção: a Coerência, a Coesão e a Verossimilhança.

Querer segurar-se à "leis" que não existem é esconder-se na zona de conforto a tal ponto de sufocar e cair na insignificância. Fazer sempre do mesmo ou proibir-se uma criação por aquilo não se encaixar no que é mais "correto" ou mesmo "aceito" dentro do senso comum é um tipo de censura poderosíssima, pois ocorre em um nível onde é possível intervir: o pensamento original do artista.

Acreditar que a criação livre de qualquer influência é a única forma Correta de fazê-lo é pecar com a humildade que deveria existir dentro de cada autor e também negar que todo o trabalho até então produzido possa servir para o aprendizado de uma nova geração de autores. É como negar-se a subir nos ombros dos gigantes passados para ir mais além nessa infinita subida da criatividade.


Existe equilíbrio entre regra e liberdade?



Sim, existe.

O velho "conheça as leis antes de quebrá-las" é uma forma simplória de responder a esta questão, mas ainda assim é uma forma válida. Claro que existem momentos onde um autor, seja por desinformação ou falta de oportunidade para tal, chegue a momentos de decisão onde não irá encontrar uma regra que poderá se orientar, ficando apenas à vontade de sua intuição, devendo assim seguí-la. 

Porém, dentro das possibilidades de cada um, é preciso sempre dá valor aos conceitos existentes, fazendo uma avaliação sobre tais antes de tomar uma decisão. "Será que essa regra funciona para o que quero dizer com minha obra?" deve ser o pensamento do autor. Se a resposta for negativa, e se souber os motivos de ser negativa, então não a culpa em seguir longe de tais preceitos.

Enfim: Nada supera a intuição do autor, mesmo quando essa diz que se deve aproveitar o conhecimento já construído anteriormente como base para seu trabalho.


Lilian K. Mazaki

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